Para não se limitar ao Dia Nacional da Consciência Negra, Coordenadora Pedagógica explora 4 passos fundamentais para transformar uma escola em uma instituição que de fato combate o preconceito racial o ano todo
No dia 20 de novembro é celebrado, no Brasil, o Dia da Consciência Negra. É nesse momento do ano, também, que muitas escolas se lembram das tradições das populações afrodescendentes e preparam programação voltada a essas questões e sobre racismo. Combatê-lo, entretanto, vai muito além de organizar uma semana festiva sobre as heranças e legados dessa parcela tão significativa da população brasileira. A escola, como principal formador do cidadão numa sociedade republicana, precisa assumir o seu papel de protagonista a fim de combater ao racismo estrutural da sociedade brasileira.
Mas, por onde começar? Para não se limitar à semana da Consciência Negra, Miriam Salles, Coordenadora Pedagóica da Mind Lab, referência no apoio ao desenvolvimento socioemocional em redes de educação em todo o Brasil, detalha 4 passos fundamentais para tornar a escola uma instituição que de fato combate o preconceito racial o ano todo.
Passo 1: Reconheça o problema
O racismo é um problema estrutural da sociedade brasileira, causado por (pre)conceitos e valores estimulados durante mais de 300 anos de escravidão no Brasil. Educadores e gestores escolares precisam parar de se esconder atrás de falsas platitudes que tentam nos desviar do fato de que muito pouco foi feito para dirimir a enorme dívida social deixada por aquele modelo econômico. “Reconhecer que o racismo, bem como a desigualdade, são frutos do processo de escravização e entender que toda uma visão de mundo foi forjada na sociedade brasileira pelo pensamento escravocrata é o primeiro passo para nos libertarmos das narrativas que tentam diminuir os danos causados à população negra”, destaca a Coordenadora.
Passo 2: Ative o autoconhecimento
Posteriormente, um segundo passo é ativar, nos colaboradores das escolas, a habilidade socioemocional do autoconhecimento. Uma boa forma de promover isso é seguir as sete perguntas para refletir sobre o racismo na escola. Os preconceitos estão tão arraigados e, muitas vezes, são tão sutis, que o professor sequer percebe que possui comportamentos racistas em seu cotidiano. As perguntas são estas:
- Com os pequeninos da Educação Infantil, você ressalta aspectos positivos das características das crianças negras?
- Quando se trata de melhorar a escola, você se preocupa em ouvir também o que têm a dizer os seus professores e alunos negros?
- Nas atividades em grupo e nos projetos, você incentiva seus alunos negros a assumirem a liderança e a compartilharem seus conhecimentos com a turma?
- Nas conversas sobre profissões e carreiras depois da educação básica, você incentiva igualmente todos os alunos a perseguirem os seus sonhos?
- Você se abre para aceitar mudanças no currículo para contemplar contribuições da cultura afro-brasileira para a sociedade?
- Na exposição de pessoas exemplares na sociedade, você inclui negros bem-sucedidos em suas áreas de conhecimento?
- Você promove debates sobre o tema com seus alunos, famílias e toda a comunidade escolar?
Passo 3: Combata as microagressões
Sabe aquela situação em que uma pessoa tenta negar que seja preconceituosa e solta a famosa frase: “Eu até tenho amigos negros!”. Já imaginou como uma pessoa negra ouve isso? Afinal, a ideia subliminar contida nessa frase é a de que uma pessoa branca, logo superior, se permite ter amigos negros que, na escala de valores dela, são inferiores. “Despertar os colaboradores da escola para as microagressões – que incluem comentários sobre o cabelo, apelidos supostamente carinhosos, ou alusões à pretensa ‘proteção natural’ aos efeitos do sol, por exemplo – é importante para banir formas de opressão às crianças negras no dia a dia”, observa Miriam.
Passo 4: Formate o Projeto Político Pedagógico da escola
Certamente incluir o combate ao racismo como um dos pilares éticos da escola é uma forma de despertar a consciência de todos para o tema e para importância de trazê-lo para o dia a dia da escola, fugindo das festas restritas a datas comemorativas. O trabalho de mudar uma sociedade é lento, árduo, e cheio de percalços no caminho. Uma pessoa sozinha jamais terá forças para alcançá-lo. “Por isso, torna-se ainda mais importante o papel multiplicador da escola, valendo-se da força transformadora da educação, para liderar a construção de uma sociedade mais justa e igualitária”, reforça Miriam Salles.
Miriam Sales atua na formação de equipes de atendimento às redes pública e privada da Mind Lab. É formada em pedagogia, com ênfase em treinamento e desenvolvimento, pós-graduada em docência e performance na educação a distância e estudante e pesquisadora sobre a importância das neurociências para o fazer docente.
A Mind Lab tem a missão de desenvolver habilidades, incluindo uma abordagem socioemocional no dia a dia das escolas, para formar pessoas mais felizes, bem-sucedidas e que saibam viver em harmonia. A empresa atua junto a redes públicas em dez estados brasileiros, entre eles Alagoas, Acre, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.