A série de animação nacional estreia dia 3 de abril na TV Brasil, levando os espectadores a universos fantásticos em uma busca pela arte nos confins da terra.
Na primeira temporada, acompanhe Bipo Montezuma, o mágico, junto com sua trupe, composta por Bárbara, a mulher barbada, Máximus, o homem mais forte, Zé, o influencer da trupe, e Johnny, o coelho da cartola. Eles viajam pelo mundo em sua caravana/barco/casa/dirigível, levando a magia do circo aonde quer que vão. No entanto, uma sabotagem os força a pousar em Literal do Oeste, uma cidade sem arte e repleta de burocracia. Com seu combustível dependendo de aplausos, a trupe terá que conquistar os luteranos e transformar a cidade para poder seguir viagem.
Equipe Técnica:
– Criação: Juliet Jones
– Direção: Cristiano Vieira
– Direção de Arte: Ruan Bruno
– Desenho de Personagens: Pedro Hamdam
– Produção Musical: Submarino Fantástico
Elenco:
– Nizo Neto
– Victor Hugo Fernandes
– Sarito Rodrigues
– Douglas Barbosa
– Luciana Ramanzini
– JV Fiori
– Roberto Rodrigues
O coletivo GDM teve o prazer de entrevistar a integrante Juliet Jones: Criadora e co-diretora da série.
Confira a entrevista:
GDM: Como surgiu a ideia para a série “O BIPO” e qual foi sua inspiração para criar esse projeto?
JJ: Bom, eu nasci no circo. Meu pai era palhaço e minha mãe a vidente que lia mão (quiromante). Eu vi de perto o backstage do “grande espetáculo”.
E é muito engraçado ser de uma família de artistas. Porque isso não é o “lugar comum” ou tradicional como o conceito da família, como instituição.
GDM: Pode nos contar sobre sua jornada pessoal e profissional até chegar ao ponto de criar e co-direcionar uma série de televisão?
JJ: Eu sempre fui criativa. Vim pra esse planeta para criar mundos. E desde pequena já sabia que queria fazer desenho animado. Em 2016, eu já tinha algumas ideias de séries para produzir.
Fui em algumas agências, produtoras, mas todas fechavam as portas pra mim. O mercado de audiovisual é muito misógino, elitista, machista. Além disso funciona por indicação. Difícil mas é isso. A única vez que me ouviram e perceberam o potencial comercial foi na Stud10, com o Cristiano Vieira.
GDM: Como foi o processo de desenvolvimento da série, desde a concepção da ideia até a produção final?
JJ: A concepção da ideia veio no TCC da universidade. O desenvolvimento da série, como toda obra audiovisual é COLETIVA. E tiveram muitos profissionais envolvidos. Pessoas maravilhosas como Tamara Eulério Costa, meu orientador Fernando Gutierrez, Ruan Bruno, Bruno Dutra Caldas. Além da própria equipe de produção. Desde os roteiristas, os animadores, a direção de voz (Melissa Garcia) que deu vida a cada um dos personagens, cenários. Cada um dos artistas contribuíram e deixaram sua assinatura, sua marca nesse projeto. E eu gostaria de agradecer imensamente cada um deles pelo processo. ( Risos. Pode fazer isso? Tipo show da Xuxa?)
GDM: Quais foram os maiores desafios que enfrentou durante a criação de “O BIPO”, especialmente considerando o contexto do mercado audiovisual em Brasília?
JJ: Eu tive o meu primeiro filho em 2008. E estava na universidade de cinema na época. O relacionamento com o pai era extremamente abusivo e tóxico. Ele, formado em psicologia me acusava de bipolar e borderline. E isso me deixava péssima. Já me desdobrava pra trabalhar, estudar e criar uma criança recém nascida. O que me salvou foi a ARTE. E eu meditava/rezava muito. Todos os dias. Pensei: “cara isso não vai me derrubar. Não posso cair. Sou mãe solteira. Tô na luta. Só vai. Eu vou rir disso ao invés de sofrer.” E fiquei com isso na cabeça. Que eu era Bipolar..BIPO..lar.. aí pum! Veio:
“O Extraordinário Circo do BIPO (lar da aberração)”.
O circo tem seus passados sombrios, né?
O palhaço, põe exemplo, é em essência o ridículo (aquele que se ri de…). Ele usa seus “defeitos” e tira proveito disso para amadurecer. Por exemplo, se eu sou narigudo, coloco um nariz vermelho para acentuar essa “particularidade”, se eu tenho o pé chato, eu uso um pé de pato. Isso arquetipicamente é muito simbólico. Porque abraço minha sombras com sabedoria e leveza.
GDM: Você poderia compartilhar conosco sua experiência como mulher e mãe solo trabalhando no setor audiovisual e os obstáculos que enfrentou ao longo do caminho?
JJ: Caramba tenho até medo de responder isso sem tocar nas feridas e acionar gatilhos. Ser mulher é uma doidera né? Estar vivo é uma doidera. Mas ser mãe, carregar no ventre uma vida e ser responsável por ela nos primeiros anos. Exclusivamente, poxa! Foi dureza. E mãe solo era (e infelizmente ainda é) uma realidade. Cheia de tabus e preconceitos. Foi normatizado. Mas é isso, a arte me tirou do lugar de vítima. Me colocou no meu lugar de pertencimento. De propósito de vida.
GDM: Qual é a mensagem ou tema principal que você espera transmitir aos espectadores através de “O BIPO”?
JJ: Que a arte salva! É muito necessário para a sociedade. A sinopse é essa. Uma trupe que cai numa cidade careta, cheio de burocratas que não entendem o conceito de ARTE. E esse cenário é desesperador para alguém que vive e transpira arte. É um grito de resistência. Quase como: Paz e Amor! do movimento hippie.
GDM:Como foi trabalhar em colaboração com Cristiano Vieira na direção da série? Qual foi a dinâmica de trabalho entre vocês dois?
JJ: Ele é um parceiro de longas datas. Tem sensibilidade, sabe se impor, tem liderança e posicionamento. A sua longa jornada como produtor deu a ele um background muito bom. E depois ele entrou no universo do conteúdo em live action e deu início a sua jornada como diretor. O Cris nunca tinha trabalhado com animação antes, quando eu cheguei na produtora vendendo o peixe animado com toda minha paixão e entusiasmo, ele comprou a briga.(Risos). Infelizmente ele é um homem branco, mas ninguém é perfeito (gargalhada). E vamos começar uma nova série. Também de minha autoria: Shaya e o Espelho sobre o autismo infantil.
GDM:Na sua opinião, qual é o papel das mulheres no campo do audiovisual e como você espera que sua contribuição para “O BIPO” ajude a promover uma maior igualdade de gênero neste setor?
Luta. Resistência. E muita paciência. Paciência é a mãe de todas as virtudes.
Ser mulher é isso. É uma virtude. Gostaria muito que todas as Garotas Do Motion se juntassem e dominassem o mundo.(Gargalhada). Sério. Seria um mundo muito interessante.
GDM:O que você espera alcançar com a estreia de “O BIPO” na TV Brasil e como você acredita que a série pode impactar o público?
Eita. Se a criançada curtir, eu cumpri meu papel. Fiz pra eles. Para as crianças. Sou apaixonada por todos eles. É meu target. Queria ter o poder de ser como uma porta voz deles. De assegurar os direitos das crianças. Pra mim é um lugar sagrado mesmo.
GDM: Finalmente, como você se sente em relação ao reconhecimento que está recebendo como co-diretora da série e qual mensagem gostaria de enviar para as mulheres criativas que estão lutando por reconhecimento na indústria audiovisual?
Esse é um assunto delicado, infelizmente. Eu assumi um papel de igual liderança no projeto com o Cris. Dirigindo várias etapas da série. E infelizmente não me foi creditada a co-direção. De novo, como se o homem branco, cis (que também é o produtor) fosse a única possibilidade de dirigir e organizar uma produção como essa. Isso me faz pensar, mesmo em 2024, ainda nós mulheres somos invisibilizadas. É uma pena. Pelo menos ainda colocaram meu nome como criadora né? Porque até isso questionaram e quiseram tirar.(Risos)
Não perca essa incrível produção da Studio 10 Filmes, a primeira animação ficcional da produtora e a primeira série de animação infantil produzida em Brasília!